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Amos Wilson e o Desenvolvimento de Crianças Pretas


Introdução

O que significa realmente educar uma criança preta? Para o psicólogo e pensador pan-africanista Amos N. Wilson, essa não é uma pergunta abstrata. É uma urgência histórica. Mais do que teoria, sua obra é um chamado à responsabilidade coletiva: construir uma educação que reconheça, valorize e liberte as infâncias pretas. Neste breve artigo, mencionamos algumas de suas reflexões.


Quem foi Amos N. Wilson?

Amos Nelson Wilson (1941–1995) foi psicólogo, professor universitário, escritor e ativista afro-americano. Ao longo de sua trajetória, ele se dedicou a investigar como o racismo afeta o desenvolvimento emocional, cognitivo e social de crianças pretas, mas também como sua história e cultura milenar impactam em seus potenciais e na sua genialidade derivada da longa trajetória africana no mundo. Para Wilson, a psicologia tradicional, ao ignorar o contexto histórico e político do povo preto, se tornava cúmplice da opressão. Ele propôs, então, uma psicologia africano-centrada, com base na cultura africana, na história da diáspora e nas condições concretas vividas pelas crianças pretas.


Obra-chave: A Psicologia do Desenvolvimento da Criança Preta

Nesta obra seminal, Wilson questiona a validade das teorias psicológicas eurocentradas aplicadas a crianças pretas. Ele parte da seguinte provocação:

“A criança preta é apenas uma criança branca que acontece de ser preta?”

Para ele, a resposta é um não categórico. As crianças pretas crescem em contextos históricos de opressão, em realidades marcadas pela violência simbólica e material do racismo. Seus modos de ser, aprender e se desenvolver estão enraizados em experiências culturais próprias, frequentemente ignoradas ou criminalizadas pela escola e pela ciência dominante.

Wilson não rejeita a psicologia em si, mas propõe outra âncora: uma psicologia que parta da realidade preta para construir caminhos de emancipação.


Contribuições Centrais de Wilson


1. Diferença não é defeito

Estudos mostravam que crianças pretas apresentavam maior precocidade em certos marcos do desenvolvimento psicomotor até o ponto em que a linguagem começa a ter maior peso do que outras áreas. Crianças com habilidades orais marcantes, por exemplo, eram classificadas como "indisciplinadas" ou "imaturas" por não se encaixarem nas formas padronizadas de expressão escrita esperadas em sala de aula. Mas esse potencial era invisibilizado por ferramentas de avaliação que privilegiavam comportamentos normatizados pela branquitude. Esse ponto também mostra como a entrada do racismo via linguagem impacta profundamente para a minimização do potencial da criança preta.


2. O desenvolvimento é atravessado pelo racismo

Wilson afirmava que o desenvolvimento de crianças pretas não pode ser compreendido fora da realidade sociopolítica em que estão inseridas. Racismo institucional, desigualdades econômicas, representações midiáticas negativas, contexto socioemocional familiar e silenciamento cultural produzem efeitos concretos na forma como essas crianças percebem a si mesmas e o mundo.


3. Autoestima racial como fundamento

Wilson era categórico: não há desenvolvimento pleno sem autoestima racial. O processo de formação identitária precisa ser ancorado no reconhecimento da história africana, na celebração das estéticas pretas e na valorização de saberes ancestrais a fim de criar uma identidade africana holística.


4. A educação é um campo de batalha

Wilson via a educação como lugar de disputa entre projetos de mundo. Por isso, defendia uma educação afrocentrada, capaz de preparar as crianças pretas não para se adaptarem ao sistema, mas para transformá-lo com consciência racial e histórica. Uma educação para a soberania e não para a integração.


5. Crítica aos diagnósticos escolares

Wilson denunciava os efeitos dos testes padronizados e dos diagnósticos que classificam crianças pretas como "atrasadas", "hiperativas" ou "problemáticas". Para ele, esses instrumentos funcionam como extensões do controle racial e não como ferramentas de cuidado.


🌍 Influência Pan-Africana e Global

As ideias de Amos Wilson se espalharam por diversas partes do mundo. Influenciaram:

  • Escolas afrocentradas nos EUA e no Caribe

  • Pesquisadores da psicologia africana em países como Gana, Nigéria, África do Sul e Brasil

  • A formação de pedagogias libertadoras em contextos de juventude negra e periferias urbanas


💡 Caminhos para a prática

  • Centralidade da família no desenvolvimento infantil: os pais e toda a comunidade em torno da criança preta precisam rever diversas ações e preparar-se para agir de forma a educar seus filhos promovendo seu potencial e segurança emocional.

  • Currículos com perspectiva africana: incluir conteúdos sobre civilizações africanas, reis e rainhas, espiritualidades pretas e movimentos de resistência.

  • Material afetivo e de reconhecimento: livros, jogos e brinquedos com personagens e protagonistas pretos.

  • Ambiente escolar acolhedor e afirmativo: onde as crianças possam ser ouvidas, vistas e valorizadas sem precisar “provar seu valor” o tempo todo.


Outras obras essenciais

  • Despertando o gênio natural da criança preta

  • A falsificação da consciência afrikana

Você pode adquirir na Editora Poder Afrikano e assistir entrevistas legendadas na Blackflix.


Conclusão

Amos Wilson não nos oferece uma receita pronta, mas um convite: olhar para cada criança preta como uma herdeira de civilizações, uma portadora de saberes e uma possibilidade de futuro. Educar, para ele, é lembrar a criança preta do seu valor, mesmo quando tudo ao redor tenta apagá-lo. É um ato radical de amor e luta e, sobretudo, de reconstrução de poder enquanto povo.

 
 
 

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